O Ser que Precede o Fazer: As Duas Posturas que Definem o Destino da Organização

Alisson Vale Por Alisson Vale
20 Out 2025

No coração de toda organização, operam duas posturas humanas fundamentais. Elas são como vetores de força que, silenciosamente, determinam se o sistema se move em direção à unidade ou à estagnação.

A primeira postura é a de quem se coloca a serviço da organização. A pauta da pessoa é fazer o que é preciso para o bem do todo, e sua satisfação pessoal vem como uma decorrência natural dessa contribuição. Quando essa postura emerge em seu estado mais puro, a ação é regida por confiança, propósito e um senso de participação em uma história que gera significado para si e para os outros. Para que essa relação prospere e se sustente, a organização retribui com estrutura, segurança, espaço para criação e, principalmente, a força da história que servirá de fonte de significado para a atuação coletiva.

A segunda postura é a de quem coloca a organização a seu serviço. As ações aqui são pautadas no benefício próprio, e o alinhamento com a necessidade do sistema só importa se for conveniente para os objetivos pessoais. Na sua forma ativa, essa postura se manifesta como uma luta para que a organização siga o rumo que mais lhe convém. Na sua forma passiva, a pessoa se protege atrás do "cumprimento de uma função". A proatividade é substituída pela espera passiva da próxima tarefa. Ao se identificar com sua função, o indivíduo, como uma peça em um mecanismo, está pronto para ser substituído ou para partir assim que a conveniência o determinar.

O resultado dessa dinâmica é uma questão de "física organizacional". Quando a primeira postura prevalece, os vetores de ação convergem. Os conflitos diminuem e a organização avança de forma coesa em direção a si mesma, a uma unidade com um senso de harmonia indistinguível. Onde a segunda postura se multiplica, os vetores se anulam em jogos de poder e interesses conflitantes. A organização fica estagnada, uma vez que o "querer" de um anula o "querer" de outro.

Esta é uma simplificação didática, mas poderosa. Ela cria o contraste que precisamos para ver como a qualidade da relação indivíduo-organização define seu destino. Não há, portanto, espaço para culpa se nos vemos em uma ou outra postura. A sutileza das situações é o que torna a realidade complexa, e a transição entre elas é, muitas vezes, natural. Ainda assim, a primeira postura emerge como um vetor claro de referência, um norte que precisamos compreender, explorar e viver com intensidade. A jornada para a unidade é um caminho cheio de tropeços e desvios, mas o destino precisa ser claro, pois o custo de não tê-lo é nos perdermos.

Colocar-se a serviço é o verdadeiro ato de união que nos ajuda a colocar de volta a vida que foi removida da organização moderna.

É diante deste entendimento que a gestão se revela em sua forma mais nobre: um ato de serviço à vida.

Em nossos projetos, esta filosofia se manifesta em todos os níveis. É a união:

  • Da equipe com seus clientes, transformando a relação transacional em uma parceria de descoberta.
  • Da estratégia com a operação, onde cada tarefa diária reflete um propósito maior.
  • Do produto com o usuário, onde o software se torna uma extensão da necessidade e aspiração humana.
  • Do indivíduo com o fluxo de valor, que serve aos clientes em suas jornadas.
  • Dos indivíduos entre si, que atuam colaborativamente compartilhando objetivos e aspirações comuns.
  • De cada pessoa com seu próprio potencial, em espaços onde podem florescer e expressar-se em sua totalidade.
  • Da organização com seu território, em vez do apego excessivo a mapas rígidos de estratégias e processos.

É a jornada do ego para o eco.

Gerir é criar as condições para que o potencial de união se realize. É nutrir conexões, zelar pela saúde do todo e harmonizar o campo de possibilidades humanas. Essa é a gestão como um ato de união que serve à vida.

Sobre o autor

Alisson Vale

Alisson Vale

CEO e Curador da Software Zen